Avaliação do risco à saúde humana pela exposição aos subprodutos da cloração da água do sistema de abastecimento público

Autor(a): Medeiros, Luciana de Castro

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  • Categoria

    Água e reuso de água

  • Autor(es)

    Medeiros, Luciana de Castro

  • Ano

    2019

Resumo

Diante do crescimento populacional e da degradação da qualidade da água dos mananciais de abastecimento público, torna-se cada vez mais desafiador abastecer as populações com água de qualidade e em quantidade ideal, por meio das tecnologias de tratamento usuais. Os processos de filtração e de desinfecção da água são tecnologias fundamentais no tratamento da água para o abastecimento humano. No entanto, podem gerar resíduos ou subprodutos de cloração que causem riscos à saúde da população. Diante desta problemática, esta tese teve como objetivo avaliar a eficiência do processo de tratamento de potabilização de água do sistema de distribuição, além dos consequentes riscos sanitários atrelados a ocorrência da geração de subprodutos do cloro. Inicialmente, foi realizada uma revisão sistemática sobre os aspectos toxicológicos dos Trihalometanos (THM), gerados no processo de desinfecção por cloração de água de abastecimento público, que identificou a necessidade de mais estudos que visem avaliar as condições de exposição da população a esta família de substâncias tóxicas, uma vez que, apresentam um potencial de induzir citotoxicidade e danos ao material genético de diferentes organismos, incluindo o homem. Esta revisão norteou os passos seguintes da avaliação de risco proposta pela tese. Para tanto, amostras de água foram coletadas em uma estação de tratamento de água (ETA) localizada no município de Extremoz (RN), que abastece parte da zona norte da cidade do Natal, a fim de identificar os processos vinculados à formação de THM, além de avaliar os riscos sanitários à exposição a esses subprodutos do cloro. Os resultados das análises comprovaram que a formação dos THM está relacionada às condições de cloração, como o tempo de contato e a concentração, assim como às características da água bruta, como a concentração e as propriedades da matéria orgânica. Adicionalmente, a água de lavagem dos filtros (ALF), tratada em lagoa de sedimentação e recirculada no sistema, contribui para a floração de cianobactérias que são potencialmente produtoras de cianotoxinas, gerando mais uma possível fonte de contaminação à saúde da população abastecida. A avaliação de risco mostrou que a água tratada consumida pela população abastecida pela ETA possui risco não carcinogênico 8 a 9 vezes acima do permitido (Índice de Perigo maior que 1 há efeito danoso à saúde da população). Já o risco carcinogênico (RC) da água distribuída foi encontrado como 400 a 500 vezes maior que o permitido (RCmédia = 470x10-5), sendo a maior concentração de clorofórmio e as vias de exposição inalatória e oral os principais fatores de risco dos THM. Desta forma, este estudo conclui que a água de abastecimento público tratada a partir de um manancial com elevada presença de matéria orgânica, filtração direta, recirculação de ALF e desinfecção por cloro possui riscos sanitários não carcinogênicos e, principalmente, carcinogênico devido a elevada formação de THM. Portanto, fica evidente que a concepção de operacionalização da ETA para tratar água bruta, com elevada carga de matéria orgânica, gera riscos à saúde das pessoas que são abastecidas por esta estação que alcança cerca de 160 mil residências. De fato, diante deste cenário, propõem-se novas estratégias de tratamento que minimizem os efeitos causados pelos subprodutos da cloração e das cianotoxinas a fim de evitar à indução de câncer e danos à saúde nas populações humanas, como modificação do desinfetante empregado, diminuição do tempo de retenção da lagoa de sedimentação e realização de um pós-tratamento com filtro de carvão ativado.